quarta-feira, 25 de abril de 2007

O custo do transporte individual

A dependência ou opção pelo transporte individual tem levado as administrações públicas a praticarem elevados investimentos em obras como estradas, vias expressas, obras de arte e estacionamentos. Ao mesmo tempo se tem percebido que nunca há suficiente capacidade viária para receber o tráfego automobilístico gerado. Estes gastos públicos de construção e manutenção do sistema viário são na verdade um subsídio “escondido” aos proprietários de automóveis, valores estes que se pudessem ser somados extrapolariam em muito os valores concedidos a título de subsídio ao transporte coletivo.

Considerando-se o aspecto da destinação do solo urbano ocupado por ruas e avenidas, observa-se, que o destino desta parcela do solo também é injustamente dividida entre veículos individuais e ônibus. Em recente pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), aplicada em 27 corredores urbanos em 11 municípios, verificou-se que 24,6% das vias públicas eram ocupados por ônibus que transportavam 68,7% dos usuários. Por outro lado os veículos individuais comprometiam 58,3% da via pública, transportando apenas 20,5% das pessoas.

Outros custos, de valores expressivos, mas não tão fáceis de mensurar, como a poluição, o dano ambiental, o custo dos acidentes e o tempo de congestionamentos, são arcados por todos, proprietários ou não de veículos. No entanto, todos estes custos não são imputados aos veículos, são subsidiados pelo estado. Em pesquisa realizada nos EUA, verificou-se que 32% dos custos ligados ao automóvel seriam externos, os referidos acima, 24% seriam internos, mas fixos (impostos, preço do automóvel, etc), e 44 % seriam internos e variáveis (combustível, manutenção, etc). Como os proprietários de automóveis só arcam diretamente com os custos internos (2/3), o 1/3 restante dos custos seriam fornecidos pelo estado.

Desta forma, uma mudança de paradigma da sociedade é exigida para acabar com esta injusta divisão dos custos do automóvel, cuja maior parcela tem recaído nas faixas mais pobres da população. O que se deseja é que o planejamento público dos transportes tenha como fim o acesso da maioria das pessoas a um sistema de transporte de qualidade e tarifariamente justo, levando em conta os “subsídios” há tanto tempo aplicados aos veículos particulares.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Mudança de paradigma

A lentidão nos deslocamentos, a dificuldade para estacionar um veículo, juntamente com os constantes engarrafamentos nos horários de rush em alguns gargalos, são alertas para um problema cuja solução passa por uma mudança de paradigma da sociedade e do governo. A causa destes problemas é o excessivo número de automóveis em circulação nas grandes cidades. Dentre as razões para isto estão: a facilidade para aquisição de um automóvel, as deficiências do transporte coletivo e o fetiche. O fetiche da mercadoria, postulado por Marx, refere-se à fantasia ou simbolismo de uma mercadoria e não seu valor de uso, ou seja, ter um carro é sinal de status, muito embora a sua utilidade seja discutível para a maioria dos proprietários. Por exemplo, lembra Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, “fazemos uma média de 14km/h em automóveis projetados para andar a 160 km/h. É a mesma velocidade das carroças do início do século passado – mais devagar que as bicicletas”. Pelo lado do governo, os investimentos na malha viária incentivam o uso do transporte individual, pois aumentam a velocidade média dos automóveis, mas diminuem a velocidade dos ônibus pelo aumento do número de automóveis. Para Dowbor, “quanto mais o transporte coletivo anda devagar, mais gente opta pelo transporte individual, é um ciclo vicioso que paralisa a cidade”. O governo tem agido sob a pressão invisível do mercado e das empresas (montadoras, empreiteiras, transporte, etc), em favor do transporte individual, quando faz elevados, pavimenta ruas e abre vias expressas. Isto porque, segundo Dowbor um carro transporta na cidade, em média, pouco mais de uma pessoa, de modo que uma faixa de avenida por onde circulam carros leva três mil pessoas em uma hora. Já uma faixa de ônibus, leva de 20 a 25 mil pessoas nesse mesmo período. A solução física tem limites, as ruas não podem mais ser alargadas, já estamos invadindo o mar, o subsolo (túneis) e o ar (elevados). A solução passa por uma mudança de paradigma, ou seja, trocar a procura de soluções para os carros por investimentos pesados no transporte para todos, o transporte coletivo.