segunda-feira, 16 de abril de 2007

Mudança de paradigma

A lentidão nos deslocamentos, a dificuldade para estacionar um veículo, juntamente com os constantes engarrafamentos nos horários de rush em alguns gargalos, são alertas para um problema cuja solução passa por uma mudança de paradigma da sociedade e do governo. A causa destes problemas é o excessivo número de automóveis em circulação nas grandes cidades. Dentre as razões para isto estão: a facilidade para aquisição de um automóvel, as deficiências do transporte coletivo e o fetiche. O fetiche da mercadoria, postulado por Marx, refere-se à fantasia ou simbolismo de uma mercadoria e não seu valor de uso, ou seja, ter um carro é sinal de status, muito embora a sua utilidade seja discutível para a maioria dos proprietários. Por exemplo, lembra Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, “fazemos uma média de 14km/h em automóveis projetados para andar a 160 km/h. É a mesma velocidade das carroças do início do século passado – mais devagar que as bicicletas”. Pelo lado do governo, os investimentos na malha viária incentivam o uso do transporte individual, pois aumentam a velocidade média dos automóveis, mas diminuem a velocidade dos ônibus pelo aumento do número de automóveis. Para Dowbor, “quanto mais o transporte coletivo anda devagar, mais gente opta pelo transporte individual, é um ciclo vicioso que paralisa a cidade”. O governo tem agido sob a pressão invisível do mercado e das empresas (montadoras, empreiteiras, transporte, etc), em favor do transporte individual, quando faz elevados, pavimenta ruas e abre vias expressas. Isto porque, segundo Dowbor um carro transporta na cidade, em média, pouco mais de uma pessoa, de modo que uma faixa de avenida por onde circulam carros leva três mil pessoas em uma hora. Já uma faixa de ônibus, leva de 20 a 25 mil pessoas nesse mesmo período. A solução física tem limites, as ruas não podem mais ser alargadas, já estamos invadindo o mar, o subsolo (túneis) e o ar (elevados). A solução passa por uma mudança de paradigma, ou seja, trocar a procura de soluções para os carros por investimentos pesados no transporte para todos, o transporte coletivo.

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